Jornalista abre a caixa–preta da OAB
A advocacia brasileira foi impactada na semana passada por um artigo publicado pela Folha de S. Paulo e assinado pelo jornalista Elio Gaspari, com o título “A caixa-preta do exame da OAB”. O jornalista aborda temas de extrema relevância para todos os que exercem a advocacia e têm na Ordem dos Advogados do Brasil um totem de credibilidade e resistência democrática. Gaspari discorre com desenvoltura por esses temas e, infelizmente, de forma nada positiva para a advocacia e para os advogados. Percebe-se, pela contundência, que o jornalista não “poupou” tintas para revelar verdades, todas elas muito bem fundamentadas.
Há tempos venho dizendo que falta à nossa entidade um mínimo de transparência sobre as suas ações, mas principalmente sobre as suas contas. Inferimos, pelos dados colhidos aqui e acolá, que a sua arrecadação é volumosa e que por esse tanto muito poderia ser feito para melhorar o desempenho dos advogados e até mesmo o papel da própria entidade. Mas, como disse Gaspari em seu texto, “A OAB tornou-se uma instituição milionária e suas contas estão longe da vista do poder público”. Com que argumentos plausíveis podemos defender a nossa entidade diante de tal afirmação? Não tem como, por mais que o orgulho profissional ferido nos pressione por uma contestação. Os números da OAB são também um mistério para os seus associados que contribuem para rechear o seu cofre.
Sobre o “Exame da Ordem” o que tenho dito em diferentes oportunidades tanto para estudantes e como para colegas recém-formados é que ele precisa urgentemente ser alterado. Da maneira como o “Exame da Ordem” é elaborado e aplicado é que se abre os espaços para as negociatas denunciadas pelo jornalista Elio Gaspari. Ele nos conta apenas dois casos – mas devem existir outros – e em ambos os responsáveis não foram punidos pela nossa entidade. Em minha opinião, o exame deve servir para aferir as condições mínimas do candidato para o “inicio” do exercício da advocacia. A OAB não pode ser “dura e exigente” com os que estão chegando e “mole e condescendente” com os velhos picaretas. Vamos mudar isso!
Concordo com o jornalista quando ele “diz” que a OAB fita o quintal alheio, mas se esquece de olhar o seu. Isso acontece não é de hoje. Contudo, precisa mudar. E urgentemente! É verdade que a OAB tem um papel institucional importante e que já fez história empunhando bandeiras de real interesse da sociedade brasileira. Porém, de uns tempos para cá, nossa entidade caiu no “vai da valsa” e se envolve ou apoia movimentos pretenso populares. Como bem disse Gaspari, “a veneranda OAB fez fama como papagaio de pirata de crises.” O jornalista, de novo, tem razão! Não podemos permitir que isso ocorra novamente. A credibilidade da OAB está em jogo. E esse jogo nós já estamos perdendo.
Rosana Chiavassa é advogada e pré-candidata de oposição à sucessão da OAB/SP