Dia do Jornaleiro
Madrugada ainda não havia dado o sinal verde do sorriso do sol e nós, pacotes de jornais e revistas tradicionais naquele então, estávamos à postos, aos gritos nas esquinas e semáforos, anunciando os periódicos, apesar de existir também jornal de um grupo maior que ainda dominava o “direito” do monopólio da notícia, informação e entretenimento.
Jornaleiro grande atividade. Voltei ao exercício da PROFISSÃO em 1979, já com minha própria banca no Bairro das Indústrias, e entrei para a Direção do Sindicato dos Jornaleiros na gestão do Presidente Maurício Braga (in memorian), dentre outros e outras valorosas companheiras.
Profissão de alto risco, pouco reconhecida, enfrentando todo o tipo de intempéries (climáticas, assaltos, asfaltos rudes, desconfortos sonambulísticos, pois os jornais chegavam aos pacotes e fazíamos dupla função, como encadernadores; desde a capa até os últimos cadernos), oras a fio, seja no frio cortante ou em escaldantes verões e ou chuvas torrenciais.
Ainda enfrentando toda sorte de prefeitos e seus fiscais, taxas, mudanças de padrão das bancas a cada mandato do alcáide Este mês de setembro nos dedicaram um dia no calendário, 30.
Como um bordão existente em um programa televisivo, nos virávamos e nos viramos 30 dias do mês, de sol a sol, em muitos casos, 24 horas de funcionamento, para levar o fruto das canetas, máquinas de escrever, gravadores, teclados, câmeras, etc e das rotativas.
Estou oferecendo esta pesquisa desta digna Profissão. Para não só comemorar este dia, mas fundamentalmente mostrar que fazemos parte da HISTÓRIA.
Aquela comemoração no dia em que o Clube Atlético foi campeão deu uma demonstração clara de como somos atingidos pelo vandalismo. Quebraram aquela banca na Praça Sete dando um prejuízo sem tamanho para a Jornaleira que ali ganha seu sustento. Nossos estabelecimentos são usados nas madrugadas como privadas
Além de levarmos uma diversidade de notícias, entretenimento, informações as mais diversas, literatura, há um profusão enorme de utilidades e curiosidades. É comum em todas as bancas, as pessoas pararem para pedir informações.
Um fato histórico de intensa gravidade ocorreu durante o regime militar. Houve uma grande proliferação de jornais da chamada IMPRENSA nanica, de resistência e/ou jornais alternativos.
A reação não tardou a ocorrer. As bancas vendia-os livremente até então, quando um gravíssimo atentado deu início ao medo dos jornaleiros(as) de continuarem comercializando aqueles periódicos. Um grupo de extrema direita denominado Comando de Caça aos Comunistas CCC explodiu a primeira banca em BH (Banca Curitiba na Rua Curitiba esquina de Rua Tupinambás) e o fez também em várias capitais do Brasil, em 30 de abril de 1980, forçando-nos a não mais vender tais publicações.
Um personagem muito interessante era o Jornaleiro TOSTÃO ou SAPO, analfabeto que decorava as manchetes dos jornais e revistas para revendê-las pelo centro de BH e o Maletta era o habitual ponto desta figura muito dinâmica e engraçada.
Assim o descreve uma senhora moradora do Edificio Maletta: “Outra pessoa interessante foi o jornaleiro José do Carmo, conhecido por Tostão ou Sapo. Homem de baixa estatura, cabeça grande, olhos arregalados, voz rouca e possante. Assim era o nosso saudoso Tostão, algumas pessoas dizem que ele foi assassinado…”
(Trecho de uma das histórias de Esmeralina Oliveira)
Fatos históricos de como surgiu a Profissão de Jornaleiro.
“Ao que tudo indica, os jornaleiros já contam com 150 anos (data do texto, nota do autor) de história na do vida do país. Tudo teria começado com NEGROS (GF) escravos que saiam pelas ruas gritando as principais manchetes estampadas nas primeiras páginas do jornal A ATUALIDADE ( primeiro jornal a ser vendido avulso, no ano de 1858).
Coube aos imigrantes italianos, chegados ao Brasil no século 19, a expansão da atividade, paralela ao desenvolvimento da imprensa no país. Na época os “gazeteiros”, como eram chamados, não tinham ponto fixo, perambulando pela cidade com as pilhas de jornais amarrados por uma fita de couro, que carregavam no ombro.
Foi um dos imigrantes italianos, CARMINE LABANCA, quem primeiro montou um ponto fixo na cidade do Rio de Janeiro – razão para muitos associarem o nome dos pontos de venda (“banca”) ao sobrenome do fundador. A curiosidade fica por conta do modo como essas primeiras bancas eram montadas, sobre caixotes de madeira, com uma tábua em cima, onde eram acomodados os jornais para serem vendidos.
Com o tempo, os caixotes evoluíram para bancas de madeira, que começaram a surgir em torno de 1910 (REVOLTA DA CHIBATA, nota do autor) e continuaram a habitar o cenário carioca, até mais ou menos a década de50, quando foram sendo paulatinamente substituídas pelas bancas de metal, o que perdura até hoje.
A regulamentação das bancas veio com com o então prefeito de S. Paulo Jânio Quadros, em 1954, por conta do paisagismo da cidade; entendeu o prefeito que as bancas de madeira não combinavam com o aspecto progressista da cidade. Por isso, ele passou a conceder licenças para novos modelos, o que veio a gerar um grande avanço na organização do espaço (E VULTUOSAS DESPESAS para nós, nota do autor).
Atualmente, as bancas estão modernas ara refrigerado, piso em mármore e inúmeros outros recursos, para favorecer o bem-estar dos consumidores.
A palavra “gazeteiro”, que também significa o aluno que costuma “gazetear” as aulas (faltar, sem que os pais soubessem), tem sua origem no jornaleiro, que era chamado de “gazeteiro”. É porque a criançada preferia ficar nas bancas, olhando os jornais e revistas, ao invés de ir para o colégio.
“Gazeta” era o nome da moeda em Veneza, no século XVI. Foi essa palavra que deu origem ao Gazetta Veneza, jornal que circulava na cidade de Veneza no século XVII. Com o tempo, “Gazeta” virou sinônimo de periódico de notícias.
O nome “jornal”, que veio a nomear, depois, o “jornaleiro”, tem sua origem na palavra latina “diurnális”, que se refere a “dia”, “diário” – o que significa de um dia de atividades.
Em 1876, o ajudante de impressor francês, Bernard Gregoire, saiu pelas ruas de São Paulo, a cavalo, oferecendo exemplares do jornal A Província de São Paulo. Mais tarde, o mesmo jornal tornar-se-ia O Estado de São Paulo.
(Informações e imagens retiradas da Revista do jornaleiro, na sua edição de outubro de 2004) Nota do articulista: não editamos as fotos por motivo de espaço, mas podem ser encontradas no sitio de busca do GOOGLE.
Fonte: www.estacio.br
Outros fatos curiosos bons e ruins. Carlos Luppi, ex-ministro do trabalho FOI jornaleiro no RJ.